sábado, 25 de junho de 2016

Estrelas a rodopiar no bosque.

Aqui deitada no chão, vejo as nuvens a fugirem da noite e a noite a engolir as nuvens. As árvores tombam e levantam, tombam e levantam infinitas vezes numa dança que dura até que o vento pare. 
Aos poucos, o negro profundo do universo domina a luz. O azul vai-se perdendo do céu e foge para dentro do outro lado do mundo, para onde foi também o Sol. Enquanto isso, a Lua nasce nas minhas costas, não sei exatamente aonde e apesar da curiosidade prefiro ficar aqui, cega da sua luz, cega de pensamentos, de olhos bem abertos para o azul que ficou negro... Desta vez não quero fechá-los...
A terra sobe-me pelas veias e ao mesmo tempo escapa-me por entre os dedos abertos contra o chão. Sinto arrepios de frio enquanto ela me envolve e me energiza. Está em todos os lados, nos meus cabelos, no meu peito, no meu ventre. Imagino as minhas mãos perfurarem a sua crosta como raízes. Sinto-a húmida como as palavras que ecoam em solavancos acima de mim. Alguém as diz. Por vezes tocam-me, por vezes não as oiço, mas gosto que elas estejam por ali...
Deixo-me estar assim, morta para os outros e a ferver de sentimentos por dentro. Vejo tudo e sinto tudo e não me movo. Não quero. Escolho render-me, segura pelas guardiãs que continuam a tombar de um lado para o outro, porque o vento não acabou.
Quando em obediência à voz que nos guia, me levanto cheia de toda esta beleza, dou com os pirilampos que voam em soluços luminosos à minha volta. Por momentos imaginei que todas as estrelas do universo tinham vindo para dançar comigo. Só pode ser magia, pensei. Estrelas a rodopiar no bosque.
E nesse instante há uma mão que me toca, um braço que me envolve, um olhar que me foca. E quis tanto partilhar aquele sentimento que me expandia cada vez mais, que me fundi num abraço, primeiro a dois, depois a três, depois a quatro e depois perdi a conta. Já não era apenas eu. Éramos... Éramos esta corrente de vida.
E assim senti a nossa cerimónia secreta de adoração à mudança de estações. De adoração ao Sol e à Lua. De adoração à união do Ser com o Outro. A minha alma sintonizada com o Todo, porque senti o Todo em mim.

sábado, 4 de junho de 2016

Fragilidade


Fragilidade...
Quando sinto tudo através do amor, vem uma grande sensação de abertura, uma vibração que se expande dentro de mim e explode para fora, sem deixar de estar cá dentro. 
Sinto os braços esticarem e a ficarem braços que abraçam tudo o que a minha vista alcança, mesmo que tenha os olhos fechados. 
Sinto o peito tão grande que caberiam em mim todos os corações que eu quisesse, mais as estrelas, a lua e nem o sol rebentaria comigo.
E quanto mais fico nesta vibração amorosa, mais sinto esta sensação de choque eléctrico que me endireita os cabelos na direção do céu. O ar quase que falta nos pulmões e a boca abre-se de espanto, na busca de respirar com mais força.
Tenho agora mil corpos que querem ir a todo o lado, que são as árvores, as nuvens, os pássaros, a chuva que cai e inunda tudo, o calor, o frio. Sinto tudo.
Vivo absolutamente no Presente.
E nesta espiral de sentimentos, de repente estou tão, tão, tão  aberta que não poderia estar mais... frágil. 
Estou a sentir tudo pelo amor e o que ele me trás é fragilidade!
Sinto medo? Espanto? Um aperto?... Da expansão sou sugada para um espaço comprimido, tão comprimido que nem o sinto...
A inevitabilidade do amor é a fragilidade. E esta só existe no amor. Que descoberta assombrosa esta.
... E é isto a vida? Esta abertura sem espaço. Esta dimensão misteriosa que me puxa e me coloca num abismo que me atrai ao invés de me assustar. Esta medida, este comprimento, esta largura que me une, que me isola. Esta equação que me aumenta e me desintegra no mesmo segundo. Esta grandeza sem proporções e que na sua transcendência me condiciona.
Quando sinto tudo através do amor, sou fragilidade em carne viva, sem pele ou proteção. Assim é o amor... que deus me valha!