quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Momento dos porquês...

Temos tantos recursos neste momento. A internet que nos permite falar uns com os outros, mesmo que estejamos em lados opostos do mundo. Transportes tão rápidos que nos levam aos quatro cantos do planeta, em menos de um dia. A ciência que nos prolonga a velhice e inventa vida aonde não era suposto. Que nos explica como funcionam os vulcões e nos avisa dos tornados e das tempestades.
E tudo isto faz sentido e de certa forma até nos ajuda... Mas pergunto, então porque é que nos intoxica?
Andamos à procura de um propósito de vida e por outro lado fazemos um esforço terrível e diário para acreditarmos que não precisamos de nenhum. 
Fazemos terapia para deixar de ter medo e nos tornarmos mais humanos, enquanto lutamos uns contra os outros e nos aterrorizamos com a solidão.
Uma multidão é “inverdadeira" e como seres únicos que somos, temos a possibilidade de ver a nossa essência. Não precisamos realmente de ninguém para estar bem ou ser felizes e ao mesmo tempo é em conexão uns com os outros que nos vemos verdadeiramente. Já li algures, "quem quer chegar depressa vai sozinho, quem quer chegar mais longe, segue com os outros".
Temos toda a polaridade do "bom" e do "mau" dentro de nós e ao mesmo tempo negamos constantemente do que somos capazes, quer para o "bem", quer para o "mal".
Somos uns estranhos para os outros e para nós próprios. Alguém se apresenta ao senhor aonde compra flores ou o pão de todos os dias? E alguém se dá a si próprio os bons dias? 
Por vezes são tantos os porquês. Porquê passar a maior parte da vida a correr? Para quê fugir sem sabermos bem do quê? Para quê dizer a verdade, se a verdade é aquela que está dentro de nós? E se a vivermos cá fora, não precisaremos de a dizer, certo? Para quê preocupar-me em meditar todos os dias, se continuo a sentir a dor de todos os dias? 
Os porquês surgem-me e por vezes azucrinam-me. No entanto e porque acredito que tudo É por um motivo, procuro respostas... e às vezes elas vêm.
Talvez porque sinto que se não meditasse, a dor continuaria sempre muito profunda, inalcançável. E sabendo a diferença, sei que pior seriam as dores se não as meditasse.
Talvez porque há sempre alguém que se importa. Talvez porque quem pergunta quer realmente saber. Talvez porque estamos sempre a aprender uns com os outros. Talvez porque existe a luz em todos nós. Talvez porque acreditamos que o melhor ainda está por vir.
Somos este Ser único no meio de outros sete biliões e é precisamente nesta multidão que nos inspiramos a ser diferentes. Vemos aqui, para além do ali. Seja lá o que isso for…
É neste oceano de pessoas e sensações que o nosso Ser desperta para o Divino. 
É neste mistério que ansiamos, sem nenhuma explicação lógica, pela comunhão com o que é belo e aparentemente inatingível ou intocável. 
É aqui que nos sentimos sozinhos e é aqui que procuramos e sentimos o amor, na mais profunda e deliciosa desarmonia. 
É aqui que estou e quero Ser. É aqui que aprendo a Ser comigo e a estar com todos e contigo.

english version (I ask for your understanding about my mistakes):

Why Moments...
We have so many resources right now. The internet that allows us to talk to each other, even if we are on opposite sides of the world. Transports so fast that can take us to the four corners of the planet in less than a day. The science that prolongs old age and invents life where it was not supposed to. That explains how the volcanoes work and warns us of tornadoes and storms.
And all this makes sense and in some ways even helps us ... But I ask, then why does it intoxicate us?
We are looking for a purpose for life and on the other hand we make a terrible daily effort to believe that we do not need any.
We do therapy to stop being afraid and become more human as we struggle against each other and terrify ourselves with loneliness.
A crowd is "untrue" and as unique beings we are, we have the possibility to see our essence. We don’t really need anyone to be well or to be happy and at the same time it is in connection with each other that we truly see ourselves. I read somewhere, "whoever wants to go quickly goes alone, who wants to go further, follow with others".
We have all the polarity of the "good" and the "bad" within us and at the same time we constantly deny what we are capable of either for "good" or for "evil."
We are strangers to others and to ourselves. Does anyone ask the name of the flower men or the bakery lady where we daily by our brad? And does one give himself the good days?
Sometimes there are so many whys. Why spend most of your life running? Why escape without knowing what? Why tell the truth, if the truth is that which is within us? And if we live that same truth outside of us, we do not need to say it, right? Why bother to meditate every day, if I continue to feel the pain of every day?
The whys come to me and sometimes they really get me mad. However and because I believe that everything is for a reason, I seek answers ... and sometimes they come.
Perhaps because I feel that if I didn't meditate, the pain would always remain very deep, unreachable. And knowing the difference, I know that the pain would be worse if I did not meditate.
Maybe it’s because there is always someone who cares. Maybe who question really wants to know. Maybe it’s because we're always learning from each other. Maybe there is light in all of us. Maybe we believe the best is yet to come.
We are this unique being in the midst of another seven billion and it is precisely in this crowd that we are inspired to be different. We see here, beyond there. Whatever that is ...
It is in this ocean of people and sensations that our Being awakens to the Divine.
It is in this mystery that we yearn, without any logical explanation, for communion with what is beautiful and apparently unattainable or untouchable.
It is here that we feel alone and this is where we seek and feel love, in the deepest and most delicious disharmony.
This is where I am and where I want to be. This is where I learn To Be with myself and to be with everyone… and with you.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

A árvore que Somos...


Sai hoje de um retiro de dez dias. Dez dias de muito trabalho físico e interior. Não sei com honestidade dizer qual dos dois o mais difícil... bem na verdade o físico passará depois de uma boa noite de sono no ninho, já o outro terá efeitos muito mais duradouros. 
Curiosa a força com que o nosso inconsciente se faz sentir. Cada emoção, cada sentimento de dor, a nostalgia da saudade, o sabor amargo da desilusão, a dúvida, todos se manifestam fisicamente. 
Reparo que na quietude da meditação o silêncio fala. 
A agitação abraça-me o corpo todo... e eu deixo. Estou em lotus embora em águas agitadas... e aceito.
É nesta ausência absoluta de movimentos que me apercebo que não tenho ouvido o meu grande mestre, o comandante do meu barco... o meu corpo. 
Permiti que alguns dos meus hóspedes me visitassem durante este retiro e foi muito bom deixá-los habitar-me sem espaços definidos. Senti-los gladiaram entre si a minha atenção e eu com tempo para os arrumar e mediar. Tenho esperança que alguns deles me tenham abandonado para sempre, abrindo a porta a outros, que me trazem novas qualidades para continuar a desbravar caminho.

Todos trazemos connosco memórias e acontecimentos que nos marcam e nos ferem. Uns largamos, outros guardamos bem no fundo de nós. São como raizes de uma árvore, agarram-nos à terra, crescendo na cegueira da escuridão. 
As raizes alimentam-nos e no entanto rasgam-nos, magoam-nos, dilaceraram-nos, matam-nos de alguma forma para nos fixarem ao chão. 
... Por vezes é tão duro criar raízes. Temos tanto para viver, tantas oportunidades para partir, tantos caminhos para seguir sem olhar para trás, tanto por descobrir. Como é bom termos este tempo para nós, para nos apercebermos que ter terra é por vezes o que nos salva e nos trás de volta à realidade. É o que nos permite recomeçar de pé.

A vida é fascinante por tantas coisas. Uma delas é, com certeza, o podermos optar por deixar sair, daquelas raízes escondidas, escuras e desconhecidas, a árvore magnífica e livre que Somos. 
Disse-me o coração, a árvore sustenta o corpo, não a Alma... Penso que ele queria dizer-me que podemos escolher encher a nossa árvore de ramos fortes, cheios de contornos e folhas verdes brilhantes, pintá-la com infinitas flores bonitas e encantadas. 
As raízes dão-nos a benção de renascer e o poder de Viver e a árvore é muito mais do que apenas aquilo que nos agarra à terra.

 A mãe terra suporta-nos e alimenta-nos, não nos aprisiona, é uma parte de nós. Somos livres de procurar a luz e de querer sentir o vento, a chuva e o calor. Somos livres de olhar para cima e desenhar as nuvens. Temos uma força independente que nos liga também ao céu e ao sol e nessa dualidade perfeita podemos transformar a nossa árvore num Ser livre, forte, corajoso, poderoso. 

Carl Jung disse: ” qualquer árvore que queira tocar os céus precisa de ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos”.

...É amando as nossas raízes mais profundas e negras, que nos conseguimos transformar na árvore mais forte e mais bonita...