segunda-feira, 10 de abril de 2017

A árvore que Somos...


Sai hoje de um retiro de dez dias. Dez dias de muito trabalho físico e interior. Não sei com honestidade dizer qual dos dois o mais difícil... bem na verdade o físico passará depois de uma boa noite de sono no ninho, já o outro terá efeitos muito mais duradouros. 
Curiosa a força com que o nosso inconsciente se faz sentir. Cada emoção, cada sentimento de dor, a nostalgia da saudade, o sabor amargo da desilusão, a dúvida, todos se manifestam fisicamente. 
Reparo que na quietude da meditação o silêncio fala. 
A agitação abraça-me o corpo todo... e eu deixo. Estou em lotus embora em águas agitadas... e aceito.
É nesta ausência absoluta de movimentos que me apercebo que não tenho ouvido o meu grande mestre, o comandante do meu barco... o meu corpo. 
Permiti que alguns dos meus hóspedes me visitassem durante este retiro e foi muito bom deixá-los habitar-me sem espaços definidos. Senti-los gladiaram entre si a minha atenção e eu com tempo para os arrumar e mediar. Tenho esperança que alguns deles me tenham abandonado para sempre, abrindo a porta a outros, que me trazem novas qualidades para continuar a desbravar caminho.

Todos trazemos connosco memórias e acontecimentos que nos marcam e nos ferem. Uns largamos, outros guardamos bem no fundo de nós. São como raizes de uma árvore, agarram-nos à terra, crescendo na cegueira da escuridão. 
As raizes alimentam-nos e no entanto rasgam-nos, magoam-nos, dilaceraram-nos, matam-nos de alguma forma para nos fixarem ao chão. 
... Por vezes é tão duro criar raízes. Temos tanto para viver, tantas oportunidades para partir, tantos caminhos para seguir sem olhar para trás, tanto por descobrir. Como é bom termos este tempo para nós, para nos apercebermos que ter terra é por vezes o que nos salva e nos trás de volta à realidade. É o que nos permite recomeçar de pé.

A vida é fascinante por tantas coisas. Uma delas é, com certeza, o podermos optar por deixar sair, daquelas raízes escondidas, escuras e desconhecidas, a árvore magnífica e livre que Somos. 
Disse-me o coração, a árvore sustenta o corpo, não a Alma... Penso que ele queria dizer-me que podemos escolher encher a nossa árvore de ramos fortes, cheios de contornos e folhas verdes brilhantes, pintá-la com infinitas flores bonitas e encantadas. 
As raízes dão-nos a benção de renascer e o poder de Viver e a árvore é muito mais do que apenas aquilo que nos agarra à terra.

 A mãe terra suporta-nos e alimenta-nos, não nos aprisiona, é uma parte de nós. Somos livres de procurar a luz e de querer sentir o vento, a chuva e o calor. Somos livres de olhar para cima e desenhar as nuvens. Temos uma força independente que nos liga também ao céu e ao sol e nessa dualidade perfeita podemos transformar a nossa árvore num Ser livre, forte, corajoso, poderoso. 

Carl Jung disse: ” qualquer árvore que queira tocar os céus precisa de ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos”.

...É amando as nossas raízes mais profundas e negras, que nos conseguimos transformar na árvore mais forte e mais bonita... 

1 comentário:

  1. Lindo, maninha! As raízes que conseguimos criar são as mais fortes. As nós cabe-nos a escolha de lhes dar a côr e força que queremos. Adoro-te

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