terça-feira, 1 de maio de 2018

Ode ao belo que há em Ti.

Hoje acordei com uma sensação de que não vou voltar a ver-te. E muito tempo irá passar até que esta impressão do nosso tudo, afinal não foi mais do que este tempo que acabou.
É tão fácil desperdiçar-me em ti e viver momentos de total rendição à tua beleza feminina. Encontrar caminhos com a ponta dos dedos, pela tua pele branca como a luz e perder os sentidos no teu ventre liso.
Quero manter o calor do teu hálito até perder a paciência. Que morra de fome antes de descolar-me da tua boca. Depois de tudo o que deixei para trás, não posso deixar escapar nada do que tenho teu. Vou beber-te de um trago e até o ar me vai cheirar à ti.
Quero morrer todos os movimentos que me afastam de nós. Apagar todas as portas que se fecham quando sais do quarto.
Quero sentir esta imensidão de sensações que me doem o prazer, até ter a certeza que não perdi nada de ti. Vou rezar pela primeira vez e pedir que as memórias que tenho, se prolonguem mesmo depois de cortares o cordão que nos prende uma à outra.
No teu corpo conheci o meu.
Na sombra do teu peito deitei a minha cabeça e imaginei que juntas conseguiríamos sobreviver a todos as crenças. Assumi que me libertarias dos meus medos. Acreditei que deste naufrágio sairia vida.
Vi-te levantar voando, sem qualquer som a acompanhar. Os teus cabelos passaram-me pela face e escorregaram-te pelo seios. A luz rendeu-se em afectos às formas do teu corpo. Descobri novas cores nesse segundo.
Vivi-te hoje pela última vez e foi como se uma espécie de fogo me limpasse de todas as ameaças que vejo nos meus sonhos. Tu eras tudo o que eu queria.
Fiquei a ver-te pela janela até desapareceres através da chuva. As gotas da água espalhadas pelo vidro, dividiram-te em mil pessoas. Mil pessoas que ficaram aprisionadas na minha janela até vir o Sol que as evaporou.
Hoje sou mais eu por tua causa.

foto by laycos


Today I woke up with a feeling that I will not see you again. And a long time will pass until this impression of our everything, it was not more than this time that as already ended.
It's so easy to be wasted on you and live moments of total surrender to your feminine beauty. Find paths with my fingertips, through your skin white as the light and to lose the senses on your smooth middle.
I want to keep the warmth of your breath until I faint. Let me starve before I take my lips off from your mouth. After all that I left behind, I can not let anything escape from what I have of you. I'll drink you all at once as water and even the air will smell on you.
I want to die all the moves that keep me away from us. Erase all doors that close when you leave the room.
I want to feel this immensity of sensations that hurt my pleasure until I'm sure I have not lost anything of you. I will pray for the first time and ask that the memories that I have, linger even after you cut the cord that binds us to each other.
In your body I met mine.
In the shadow of your chest I laid my head and imagined that together we could survive all beliefs. I assumed you would free me from my fears. I believed that life would come from this shipwreck.
I saw you fly up, with no sound at all. Your hair passed over my cheeks and slipped down your breasts. The light surrendered in affections to the forms of your body. I discovered new colours in that second.
I lived you for the last time today and it was as if a kind of fire cleansed me of all the threats I see in my dreams. You were everything I wanted.
I watched you out the window until you disappeared through the rain. The drops of water scattered on the glass divided you into a thousand people. A thousand people who were imprisoned in my window until the sun came that evaporated them.
Today I am more because of you.



segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


Quando vivo a verdade não há nada que se lhe compare. Algo desperta em mim e todo o meu corpo estremecesse num segundo interminável. E nesse momento espásmico, há uma luz que surge e ilumina todo o meu ser de uma forma alucinante e precisa. Como se um raio me atravessasse, na sua viagem fulminante entre a vida e a morte. Vivo no corpo a sensação desse fenómeno que me atravessa com precisão de um punhal e se por uma lado sinto o gelo acutilante do metal, por outro é como se a perfeição, ela própria, encarnasse no meu corpo e nada mais existisse, para além daquele momento, que me parece uma vida inteira.
Pergunto-me muitas vezes se sigo realmente o meu coração, se deixo que ele seja efectivamente o Senhor da minha vida. - É minha convicção pessoal que se o ouvir, vivo em verdade plena. E nessa linha, questiono-me, que verdade é esta? O que significa viver segundo a verdade? Será que é o mesmo que dizer, vivo aquilo que é bom para mim? E como sei se é realmente o melhor para mim?
Há uma pessoa sábia que me acompanha e me disse um dia, que a minha verdade talvez seja tomar atenção às minhas necessidades…
Na realidade, não posso afirmar com certeza que as decisões que tomo na vida e os passos que dou, são os melhores para mim. E até entro em grande debate interior sobre o assunto, não me demoro é muito em preocupações com as consequências. Uma vez tomada a decisão, sei que o caminho é para a frente. Honestamente, inquieto-me por viver segundo esta verdade e quando me sento em silêncio, apercebo-me muitas vezes dela, porém nem sempre a sigo. 
Caminhar ao lado do meu coração, não significa o gozo e o contentamento a todo o momento, como gostaria de sentir. Por isso escolho ouvi-lo, sim, porém tenho de confessar que só por vezes decido em consonância com o que dele me vêm, pois não me consigo sintonizar sempre com a sua verdade. Não se pense que é algo automático, ao contrário, exige muito treino e coragem… e nem sempre a tenho. 
Há dias em que me vem um sentimento de vazio interior, como se nada fizesse sentido. Sinto um peso que se assemelha ao arrependimento de algo que preferia não ter vivido e nessa altura fico perdida. Como se no meu estômago habitasse de repente uma fome insaciável. E nestes momentos fico insegura e assustada e só me apetece sair do meu corpo para não sentir. Sei no entanto, contrariada, que vivendo essa dor, ela me fará perceber que a verdade do meu coração não significa adquirir a eterna felicidade. Viver esta verdade significa, acima de tudo, podermos viver em ligação absoluta com o divino. …Talvez seja aquilo a que chamamos de “o significado da vida”... 
Honestamente não sei. Sei apenas que quando sou verdadeira comigo, mesmo que me doa, vem-me uma espécie de sensação de dever cumprido, algo que me transcende e que é ao mesmo tempo, todo o meu Ser. Sinto que vivi um momento em perfeição. É como se visse uma fera à minha frente, da qual tenho um medo terrível e quando a olho profundamente, realizo que afinal essa fera sou Eu e que não havia nada do que sentir medo.
Viver em pura verdade, pode ser então o que nos conecta com o que nos faz realmente sentir vivos e isso com tudo o que viver significa. Ou seja, viver as alegrias, a dor, a saudade, o êxtase, a morte, o desespero, a abundância, a felicidade, o choro e o riso, viver no medo ou no limite, na fuga ou no amor. 
Quando me surge, no meio da minha vida feliz, um sentimento de profundidade e o meu corpo escurecesse, por momentos assusto-me. Tenho quase o impulso de fingir que estou a sentir outra coisa qualquer, que não este assalto à minha felicidade. E pergunto-me, que intruso é este que também me acompanha na busca pela minha origem interior? Que nota é esta que me contrai, que me desafina e desatina e me faz descer o tom?
E nessa altura, puxa-me uma mão que me traz de volta e com ela chegam todas as pessoas da minha vida, todo o calor que elas me fazem sentir, todo o carinho e profunda gratidão por estarem na minha vida e por permitirem que continue na delas. 
Viver esta minha verdade dá-me espaço para ser grata pela minha mãe, pela minha irmã, pelo meu sobrinho, pelo meu irmão e sua mulher, a mãe que carrega dentro de si o meu novo sobrinho, sou grata pelo meu pai. Ser grata pelas minhas grandes amigas e amigos e pelas pessoas que vou conhecendo e que não esqueço. A minha verdade é um pouco de todos e vivo sempre com muito amor, a alegria de vos ter sempre comigo, mesmo que neste momento seja para lá deste oceano. 
Sei agora o que é estar longe, bem longe daqueles que gostamos, sem conseguir transformar estes oito mil quilómetros em oito minutos. E se por um lado é tentador ceder à tristeza de não vos poder abraçar e tocar a esta distância, por outro, apercebo-me do Poder que é realmente amar-vos desta forma inesgotável e sempre presente. Tomo consciência que esta energia atravessa realmente todas as montanhas, selvas e florestas, combate tempestades e furacões, percorre mares e rios, escapa ao tempo e desconhece a noção de espaço. Apenas existe cheia de luz e calor dentro de mim. 
Encho-me de alegria de vos sentir cá dentro, plenos de vida, como se fossem um coração sempre a bater e uns pulmões sempre a respirar. Sinto-vos todos os dias, sem me cansar, em eterna rotina e puro prazer. Fico com a certeza que o amor que sinto está para lá da distância.  
De novo confio que viver em verdade é na realidade viver o amor por mim e por vocês, meus queridos mais queridos e amados.


Amo-vos para além de mim e sou muito muito feliz por saber que vos tenho. De verdade, de verdade, infinitas vezes de verdade.