segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


Quando vivo a verdade não há nada que se lhe compare. Algo desperta em mim e todo o meu corpo estremecesse num segundo interminável. E nesse momento espásmico, há uma luz que surge e ilumina todo o meu ser de uma forma alucinante e precisa. Como se um raio me atravessasse, na sua viagem fulminante entre a vida e a morte. Vivo no corpo a sensação desse fenómeno que me atravessa com precisão de um punhal e se por uma lado sinto o gelo acutilante do metal, por outro é como se a perfeição, ela própria, encarnasse no meu corpo e nada mais existisse, para além daquele momento, que me parece uma vida inteira.
Pergunto-me muitas vezes se sigo realmente o meu coração, se deixo que ele seja efectivamente o Senhor da minha vida. - É minha convicção pessoal que se o ouvir, vivo em verdade plena. E nessa linha, questiono-me, que verdade é esta? O que significa viver segundo a verdade? Será que é o mesmo que dizer, vivo aquilo que é bom para mim? E como sei se é realmente o melhor para mim?
Há uma pessoa sábia que me acompanha e me disse um dia, que a minha verdade talvez seja tomar atenção às minhas necessidades…
Na realidade, não posso afirmar com certeza que as decisões que tomo na vida e os passos que dou, são os melhores para mim. E até entro em grande debate interior sobre o assunto, não me demoro é muito em preocupações com as consequências. Uma vez tomada a decisão, sei que o caminho é para a frente. Honestamente, inquieto-me por viver segundo esta verdade e quando me sento em silêncio, apercebo-me muitas vezes dela, porém nem sempre a sigo. 
Caminhar ao lado do meu coração, não significa o gozo e o contentamento a todo o momento, como gostaria de sentir. Por isso escolho ouvi-lo, sim, porém tenho de confessar que só por vezes decido em consonância com o que dele me vêm, pois não me consigo sintonizar sempre com a sua verdade. Não se pense que é algo automático, ao contrário, exige muito treino e coragem… e nem sempre a tenho. 
Há dias em que me vem um sentimento de vazio interior, como se nada fizesse sentido. Sinto um peso que se assemelha ao arrependimento de algo que preferia não ter vivido e nessa altura fico perdida. Como se no meu estômago habitasse de repente uma fome insaciável. E nestes momentos fico insegura e assustada e só me apetece sair do meu corpo para não sentir. Sei no entanto, contrariada, que vivendo essa dor, ela me fará perceber que a verdade do meu coração não significa adquirir a eterna felicidade. Viver esta verdade significa, acima de tudo, podermos viver em ligação absoluta com o divino. …Talvez seja aquilo a que chamamos de “o significado da vida”... 
Honestamente não sei. Sei apenas que quando sou verdadeira comigo, mesmo que me doa, vem-me uma espécie de sensação de dever cumprido, algo que me transcende e que é ao mesmo tempo, todo o meu Ser. Sinto que vivi um momento em perfeição. É como se visse uma fera à minha frente, da qual tenho um medo terrível e quando a olho profundamente, realizo que afinal essa fera sou Eu e que não havia nada do que sentir medo.
Viver em pura verdade, pode ser então o que nos conecta com o que nos faz realmente sentir vivos e isso com tudo o que viver significa. Ou seja, viver as alegrias, a dor, a saudade, o êxtase, a morte, o desespero, a abundância, a felicidade, o choro e o riso, viver no medo ou no limite, na fuga ou no amor. 
Quando me surge, no meio da minha vida feliz, um sentimento de profundidade e o meu corpo escurecesse, por momentos assusto-me. Tenho quase o impulso de fingir que estou a sentir outra coisa qualquer, que não este assalto à minha felicidade. E pergunto-me, que intruso é este que também me acompanha na busca pela minha origem interior? Que nota é esta que me contrai, que me desafina e desatina e me faz descer o tom?
E nessa altura, puxa-me uma mão que me traz de volta e com ela chegam todas as pessoas da minha vida, todo o calor que elas me fazem sentir, todo o carinho e profunda gratidão por estarem na minha vida e por permitirem que continue na delas. 
Viver esta minha verdade dá-me espaço para ser grata pela minha mãe, pela minha irmã, pelo meu sobrinho, pelo meu irmão e sua mulher, a mãe que carrega dentro de si o meu novo sobrinho, sou grata pelo meu pai. Ser grata pelas minhas grandes amigas e amigos e pelas pessoas que vou conhecendo e que não esqueço. A minha verdade é um pouco de todos e vivo sempre com muito amor, a alegria de vos ter sempre comigo, mesmo que neste momento seja para lá deste oceano. 
Sei agora o que é estar longe, bem longe daqueles que gostamos, sem conseguir transformar estes oito mil quilómetros em oito minutos. E se por um lado é tentador ceder à tristeza de não vos poder abraçar e tocar a esta distância, por outro, apercebo-me do Poder que é realmente amar-vos desta forma inesgotável e sempre presente. Tomo consciência que esta energia atravessa realmente todas as montanhas, selvas e florestas, combate tempestades e furacões, percorre mares e rios, escapa ao tempo e desconhece a noção de espaço. Apenas existe cheia de luz e calor dentro de mim. 
Encho-me de alegria de vos sentir cá dentro, plenos de vida, como se fossem um coração sempre a bater e uns pulmões sempre a respirar. Sinto-vos todos os dias, sem me cansar, em eterna rotina e puro prazer. Fico com a certeza que o amor que sinto está para lá da distância.  
De novo confio que viver em verdade é na realidade viver o amor por mim e por vocês, meus queridos mais queridos e amados.


Amo-vos para além de mim e sou muito muito feliz por saber que vos tenho. De verdade, de verdade, infinitas vezes de verdade.

5 comentários:

  1. Não sendo mais do que mereço
    e sem tempo para me arrepender...
    sou dança de ser o que não devo
    sendo tudo aquilo que posso ser

    Sou escravo, porque esperança
    sou rei sem consciência.
    Porque só é livre quem não pensa
    só ama, quem a verdade conheceu.

    E certo que de viver não esqueço
    nesta ânsia por vezes tempestade
    sigo então, sendo o que pareço.

    Tardio tempo de mim fará verdade
    porque hoje ainda, amanhã cedo
    só ontem, quem sabe, serei saudade.

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  2. Eu é que agradeço , o prazer é todo meu!

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  3. Beloca, ás vezes penso em ti e penso: Que grande mulher, que tão grande coração, cheio de coragem e aventura dentro de si. Fico espantado com a tua capacidade de amar e de viver a vida em si. Que bom ter um exemplo como tu que avança sem medo para a Vida que tão bem a sabes viver! Parabéns por seres quem és e Parabéns por estares a viver a vida e elevares o teu coração ao ALTO, como toda a gente devia fazer. És especial e por tudo o que passei contigo agradeço o teu exemplo de ser Humana. Bem Hajas e Viva a Beloca! Vivaaaaaaaaaaaaaaaaa! Beijos grandes e abraço apertado querida!

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