terça-feira, 25 de março de 2014

Minha Mãe, o Eterno Feminino e muito mais!



Ontem fez anos a mulher mais charmosa e elegante que conheço. A minha Mãe.

Foi há pouco tempo que me apercebi que o meu feminino me foi oferecido aos poucos, durante anos, todos os dias, sem nunca nada me ter sido dito ou deliberadamente mostrado. Tive a sorte de ter em casa uma mulher que se mostrava feminina a cada gesto que fazia e que eu observava despreocupada, sem saber que assim era.
Hoje há imagens que tenho guardadas na memória e que recordo com gratidão. O meu corpo vestiu esses gestos... Estou a falar da minha Mãe.

Esta história de ser feminina tem muito que se lhe diga. Nem tudo é assim tão natural. Há gestos que se aprendem, movimentos que se copiam, aparências que se cuidam.

Lembro-me de estar presente quando a minha Mãe saia do banho e se limpava suavemente na toalha. A forma dengosa e metódica com que espalhava o creme no corpo. Primeiro nas pernas, de baixo para cima e depois ombros e braços, alongando-se até às mãos. O peito e o ventre em último lugar. Nenhum ponto do corpo era esquecido.

Depois passavamos para o quarto. Mais uma vez, sem me aperceber seguia-lhe os passos e observava. Tinha a indumentária escolhida desde a noite anterior, hábito que ainda hoje eu copio e repito diariamente. Sempre em frente ao espelho, as peças de roupa tomavam a forma do seu corpo alto, magro e para mim sempre jovem. Não se pintava, não colocava jóias, era o perfume o toque final. Adorno que não se via, mas sentia-se. O frasco escolhia-o na altura e tirava-o da cómoda cheia de essências que chegavam de todo o mundo e que se espalhavam pela casa anunciando o fim deste ritual diário.


Quando me perguntaram agora há pouco tempo, quem era para mim a minha referência no que diz respeito ao feminino, tive de fazer jus aos anos em que fui aprendiz desta espécie de feiticeira do feminino. O que foi muito bom, pois finalmente pude sentir-me verdadeiramente grata e ainda por cima, não só a Deus. Há alguém a quem posso de viva voz agradecer a minha feminilidade e essa pessoa é a mulher minha Mãe.

Sinto ainda vontade de lhe agradecer outra coisa. 
Sempre associei a intensidade de amar ao meu pai, por várias razões que não são agora importantes. Acontece que a questão do feminino que falei acima, levou-me a outra verdade. 

Embora menos perceptível em gestos e ou palavras, a minha Mãe sempre nos protegeu de uma forma leonina e por vezes até agressiva. Se há pessoa que nunca teve medo de enfrentar a dor, o orgulho, a pobreza, o tempo e a incerteza, desconhecidos, polícias e ladrões, foi esta Senhora. 

Hoje quero dizer em sua homenagem que tenho a noção clara e real do que é ser amada e protegida, do que é saber que tudo pode faltar nesta vida, excepto a certeza de que nunca vou estar sozinha, porque a minha Mãe está sempre presente.

Passam-nos tantas pessoas na vida, tantos amigos, professores, conhecidos, namorados e amantes, tantos acontecimentos, tantas recordações e vivências. E quando abro este baú cheio de memórias, há um fio condutor em todas elas, que tudo une e clarifica, que marca presença. A minha Mãe.

Esta pessoa que hoje sou, não sou só eu, uma parte é também a minha Mãe. Como se no dia do meu nascimento, o beijo que a minha Mãe me deu, as lágrimas de emoção que ela deixou cair no meu rosto me tivessem baptizado de uma luz que nunca mais se apagou. E essa luz sinto-a morna e viva no meu peito quando mais preciso. Nessa altura sei sempre aonde posso ir e aonde posso descansar.

Muito grata minha querida Mãe. 
...As palavras são muitas, mas o amor é muito mais.

da tua filha beloca

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