sábado, 10 de maio de 2014

A minha sala de massagens na Suíça

Estou aqui faz cinco dias...
Hoje entrei na minha sala de massagens e reconheci imediatamente o cheiro característico que ela agora tem. Um aroma doce do óleo, de ervas e de antigo, como ela. Parecia que já a conhecia há anos. Foi uma sensação inesperada, mas muito confortável.

 A última massagem que dei foi ontem. Sai por volta das dez e um quarto da noite e segui para o quarto de banho onde deixei a água levar todo o cansaço e toda a tensão do dia. Ficou a gratidão e a alegria de estar aqui.
Quando cheguei ao quarto, depois da derrota do corpo pelo líquido, tinha um postal ao fundo da porta a agradecer uma massagem que ofereci a alguém que não podia fazer o investimento e que estava muito carente desse amor. Costumo dormir bem... nessa noite dormi ainda melhor, embalada por palavras de gratidão e ternura que me encheram a alma.
A sala das massagens foi improvisada para poder acolher todos aqueles que vieram experimentar a terapia Ayúrvedica.
É uma sensação incrível a de fazer uma massagem. Estou a dar e a receber em simultâneo. O outro sou eu. Parece um ciclo fechado e único que me permite, com consciência, cuidar sempre com muita atenção, ao mesmo tempo que o meu paciente se abre e me consente. No final, numa tentativa de guardar a experiência para sempre dentro de si, respira fundo. Os seus olhos abrem-se e assemelham-se a duas janelas, onde sempre esteve guardado o segredo da paz e da tranquilidade. A entrega é total e sem filtros. 
Quando chegam não imaginam a transformação que vai acontecer. Despem-se, deitam-se e nus de tudo abrem os braços e oferecem-me a sua vulnerabilidade. Sem darem por isso vão morrendo do mundo e ficam apenas no corpo. Há uns que resistem mais tempo, mas é escusado. Aos poucos o óleo faz efeito e os sentidos rendem-se ao momento.
Ao final de cinco dias esta sala já recebeu mais de quinze pessoas e ainda mais estão para vir. As minhas mãos já abriram chakras, percorreram toda a espécie de tecidos, libertaram frustrações, estenderam músculos, pressionaram tendões, tocaram marmas, hidrataram vários tipos de pele e fizeram o sangue correr livremente pelos canais oxigenados. Estão cheias.
Quando olho da porta para dentro da sala, vejo o colchão no chão, os cobertores em cima, duas almofadas, o óleo com alecrim e o coador das especiarias, a taça tibetana ao lado do doseador e sinto-me privilegiada com tanta abundância. O menos é mais, penso eu. Eternizo este momento no meu coração, unindo-o a todos os outros que já gravei aqui neste retiro.
Hoje faltou-me marcação para a primeira hora da manhã. Aproveito e vou ouvir os pássaros debaixo de uma árvore, onde faço este texto.
Diderot uma vez disse "já lá estou antes de chegar e ainda ficarei depois de ter partido". Assim é com a minha sala de massagens na Suíça. De alguma forma a minha vibração chegou antes de mim e vai ficar depois de amanhã, após regressar a Lisboa.

2 comentários:

  1. Minha querida que feliz estou por ti, até um pouco emocionada, desculpa não me ter despedido de ti e desejar-te boa sorte, mas felizmente não precisaste dela porque tu fazes a tua, quando chegares da noticias,preciso de te ver,beijos de gratidão. Carla

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  2. dei por mim com uma enorme curiosidade sempre que vejo que escreveste algo novo! queremos mais!

    Pina

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