sábado, 17 de outubro de 2015

Homenagem a algo que me transforma...

Quando entramos na sala entramos descalços. E aos poucos também nos vamos desnudando. Desnudando do trabalho, do que ainda ficou por fazer, da azáfama, da poluição sonora sempre a zumbir à nossa volta, do telemóvel, da raiva, das frustrações... do cansaço... E aos poucos começa. Começa a danza...
Danzar descalça. Viver desde o cumulo da liberdade até ao extremo de nos sentirmos encurralados nos nossos próprios medos... e é a danzar que lhes damos baile.
As vivências são todas aquelas que temos direito e também as que não temos. O nosso processo é de todos, pois também é no Outro que nos encontramos. As emoções rodopiam em espirais lentas e nesse giro centrado voamos e ascendemos até ao mais alto de nós.



Danzar descalça e sentir-me nua... nua de pele, de contornos, de preconceitos, de ideias, de membros, de julgamentos. Agarrar o Outro de olhos fechados. Agarrar o Outro de olhos nos olhos. Aqui não há diferença física, há respeito pelos órgãos femininos e masculinos. Sou e sinto-me sensual. Sou e sinto-me sensível. Tocar e ser tocada no mais fundo do meu Ser, numa Sexualidade sagrada e sem tabus.
Danzar descalça começando de Dentro para o todo, como se o todo fosse Eu. Ir de copo cheio, livre e sem limites e voltar cheia daquela vibração expansiva do universo divino. Sentir-me sublime. O meu espírito em exaltação, o meu corpo solto num abraço planetário e a minha mente lúcida e cheia de vontade. A Transcendência liberta-nos de fronteiras.
Danzar descalça com tudo. Com as mãos, com as pernas, com os dois pés desencontrados e encontrando-se, cabelos no ar com os caracóis a voar despenteados para trás. Sou árvore , Sou lua, Sou um oceano, sinto o vento a soprar dentro de mim. Percorro enérgica a polaridade emocional e com o corpo, a mente e a minha natureza orgânica vou... vou num segundo intemporal, ardendo em Vitalidade e transformação.
Danzar descalça desenhando as ideias no chão e no ar, com os dedos todos, com os tornozelos, com o nariz, com as orelhas e as coxas. Colorir o tecto com as lágrimas que me caiem do pensamento. Ouvir uma orquestra com mil músicos escondidos debaixo de guarda chuvas com o céu pintado no resguardo. Imaginar que saltamos das janelas a voar, como se a gravidade fosse apenas uma invenção da nossa Criatividade.
Danzar descalça no meio de uma tempestade de emoções, sem precisar de gabardina ou carapuça, sem me esconder ou proteger, porque o único risco que corro é escorregar nos braços do Outro. Aqui o meu corpo serve de palco aos meus sentimentos, pelos braços sai a alegria, pelo peito o amor, pelas mãos a amizade, pelo olhar a verdade. Num ímpeto contínuo percorro a sala descalça e lanço toda a minha Afectividade.
E assim a danzar descalços, depois do êxtase, do apaziguamento, depois de termos permitido que o corpo seja realmente um instrumento e a casa das nossas emoções, encerramos as odes numa roda lunar ...ou solar...
bem integrados.
 Claro que já perceberam que não estou a falar apenas de uma aula de biodanza. A aula é só uma faísca. Acontece que é uma faísca que acende a lareira... E a minha fica bem acesa depois de danzar :)

3 comentários:

  1. muito bom! Querida Beloca, Parabéns pelo teu percurso! Espectaculo! :) ;)

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  2. Amei ler-te e identificar-me com o que sentes. Experimentei há 2 dias e foi mágico. Venham mais danzas destas que nos fazem sentir Vivas e parte deste mundo mágico e imenso de Seres tão especiais e parecidos connosco e complementares...

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